domingo, 23 de agosto de 2009

Enfim...





Enfim… para que tudo
no final fosse perfeito...
(“O mito”)



Nos cais de pérolas e cristais,
vinha Doroteia sentar-se…
(…sentava-se como se sentam as sereias)

…Seu olhar inventava janelas,
arcos e portais
na neblina das horas
tisnadas de maduro… (como doces frutos)
Depois, com os seus dedos finos… finos e brancos
como as asas dos querubins,
entrelaçava seus cabelos
na sua “sombra menina”…
Fazia-se silêncio,
e oferecia-se de rosto ao luar.

Na boca corria-lhe
um gosto quente a água…
Perguntava:
“- Onde, afinal, se esconde
a nascente dos beijos?...
Qual o segredo das líquidas línguas
de cristal e de perfume
em que os beijos
se transformam?…”

Enfim… para que tudo
no final fosse perfeito…
dava ao corpo
a suave inclinação dos rios.



José Gama
(Fotos INS)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Poesias de OLIVA...





AS MÃOS

Hesito...
Minha mão suspende

Tacteia acomoda-se
Adormece no oculto
Escurecido de um
Tecido aquecido
Protegida pela tua
Expectante
Num casaco
Qualquer
De resguardo.

Talvez a outra
Mão a tua
Braço agitado
Desponte um
Mar de gestos
Incontidos
Inventivos
Amigos
Conchas de palavras
Vibrantes de espuma
Dedos expressivos
Enrolados
Nos contornos
Grãos de areia
Do sentir.

Silencias...

Desponta a música
A duas mãos
Revigoradas...
A minha no leito
Da tua
Tão embevecidas
Na luz amorosa
Do recolhido
Anel dourado
Do nosso esplendor.

O gesto e o som
Difunde-se
No Infinito.

Oliva Campos, 15 de Março/2009

A VELHICE

Alojada
no som-silêncio
do líquen dorsal
do corpo-mãe
curvado

Adormece...

Adornada
de traços de pele
colar embutido
no busto belo
da idade
sabe apenas a foz
da inocência
agora renascida
no voo poeta.

Relembra...

O sonho
alfabeto de quimeras
soletrado em
cada olhar
comovido
poeiras estivais
serenos encontros
em qualquer infância
que leve
ofereça
embevecida
as asas-mestras à
Plenitude!


Oliva Campos

(Fotos de Isabel)

domingo, 22 de março de 2009

GEOMETRIA DOS SONHOS




GEOMETRIA DOS SONHOS

Adormeço...

...Resvalo no dorso
da física ternura
das horas lunares

Cantaram os cucos

Pararam os pêndulos
do tempo

Noite,
Manhã,
Horizonte...
…O sossego
Do lado do desconhecido
dos limites.

Outra vez noite
na minha boca...

Boca fechada...
Olhar que redesenha
repentinamente
os seios proeminentes da Lua.

Recomeço
da geometria dos sonhos;
Idratos da fantasia;
Melodia dos dedos
que se entrelaçam...

...Melodia
onde se empoleiram os pássaros
que se alimentam
do corpo
das estrelas.


José Gama
(Foto INS)

sábado, 7 de março de 2009

PRIMAVERA




Primavera

Um sorriso desenhado
Em cada pedaço telúrico
Renasce alvo gracioso
Com a benção
Da Primavera em flor.

Instantes soltos
De uma Vida
Brumas de feição
Em comunhão
Com o soberano cume
Agreste caminho
Do eterno peregrino.

Oliva Campos

(Foto da Amiga Isabel)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Cisne junta-se à Sereia...




LUAR INCANDESCENTE


Dizem que os sonhos
Dão fruto...
Mas às vezes,
É ele – o fruto –
O próprio sonho.

Por isso
As primaveras repetem-se
E, às vezes,
Março renasce
Em pleno Setembro...
...E irrompem, também às vezes,
viçosas azedas
Por entre perfumadas castas
De videiras.

Às vezes, ainda,
No espelho dos olhos,
Um luar incandescente
Derrete dramaticamente
A espessa neve
Onde misticamente
Sobrevivem as papoilas de Agosto.

...Ainda, às vezes,
A noite é profunda
Em plena madrugada,
Porque é frondoso e alucinante
O musgo onde a noite
Devoradora de frutos
Adormece...
...Adormece, deitada.

José Gama

(Foto de Isabel)

Este é o início do nosso Blogue!




O MAR


Vim visitar o mar.
As ondas enrolam-se, mansas
No lençol de água azul.
Sonoras, convivem em
Cambalhotas à beira
Bebendo areia,
Magentas, esbranquiçadas
Ondulações rasteiras.
As gaivotas descansam.
O sol já alto
De uma claridade
Quase crua,
Quase nua,
Beija as gaivotas
Em pé
No areal
Alisado
Empossado
Infinito.
Deixam-se, elas,
Encolhidas,
Ficar juntas
À espera do amor do sol
Que as aqueça.
E esperam
Tranquilas, pacientes
A luz intensa
Do meio-dia.
Uma grasna.
Outra esvoaça.
Vê-se ao longe
Uma prancha.
E um homem.
É mais um dia
De mar.

Costa da Caparica, Fev./2007

Olívia Campos
(Foto da Amiga Isabel, do blogue Poesia Viva e outros, com José António)