domingo, 23 de agosto de 2009

Enfim...





Enfim… para que tudo
no final fosse perfeito...
(“O mito”)



Nos cais de pérolas e cristais,
vinha Doroteia sentar-se…
(…sentava-se como se sentam as sereias)

…Seu olhar inventava janelas,
arcos e portais
na neblina das horas
tisnadas de maduro… (como doces frutos)
Depois, com os seus dedos finos… finos e brancos
como as asas dos querubins,
entrelaçava seus cabelos
na sua “sombra menina”…
Fazia-se silêncio,
e oferecia-se de rosto ao luar.

Na boca corria-lhe
um gosto quente a água…
Perguntava:
“- Onde, afinal, se esconde
a nascente dos beijos?...
Qual o segredo das líquidas línguas
de cristal e de perfume
em que os beijos
se transformam?…”

Enfim… para que tudo
no final fosse perfeito…
dava ao corpo
a suave inclinação dos rios.



José Gama
(Fotos INS)